sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Histórias Belíssimas de Paulo Coelho: Momentos de Reflexão

O que você salvaria?
 
Um jornalista foi entrevistar Jean Cocteau. Sua casa era um verdadeiro amontoado de bibelôs, quadros, desenhos de artistas famosos, livros, Cocteau guardava tudo, e tinha um profundo amor por cada uma daquelas coisas. Foi então que, no meio da entrevista, eu resolvi perguntar: "se esta casa começasse a pegar fogo agora, e você só pudesse levar uma coisa consigo, o que escolheria?"

- E o que Cocteau respondeu? – pergunta Álvaro Teixeira, responsável pelo castelo onde estamos, e grande estudioso da vida do artista francês.

- Cocteau respondeu: "Eu levaria o fogo".

E ali ficamos todos, em silêncio, aplaudindo no íntimo do coração a resposta tão brilhante.
 
 A  Verdadeira Importância
Jean passeava com seu avô por uma praça de Paris. A determinada altura, viu um sapateiro sendo destratado por um cliente, cujo calçado apresentava um defeito. O sapateiro escutou calmamente a reclamação, pediu desculpas, e prometeu refazer o erro.

Pararam para tomar um café num
bistrô. Na mesa ao lado, o garçom pediu a um homem que movesse um pouco a cadeira, para abrir espaço. O homem irrompeu numa torrente de reclamações, e negou-se.
- Nunca esqueça o que viu - disse o avô para Jean. - O sapateiro aceitou uma reclamação, enquanto este homem a nosso lado não quis mover-se. Os homens úteis, que fazem algo útil, não se incomodam de serem tratados como inúteis. Mas os inúteis sempre se julgam importantes, e escondem toda a sua incompetência atrás da autoridade.  
Entendendo as teias de aranha
Quando eu me encontrava fazendo o caminho de Roma, um dos quatro caminhos sagrados de minha tradição mágica, me dei conta - depois de quase vinte dias praticamente sozinho - que estava muito pior do que quando havia começado. Com a solidão, comecei a ter sentimentos mesquinhos, amargos, ignóbeis.

Procurei a guia do caminho, e comentei o fato. Disse que, ao iniciar aquela peregrinação, achei que ia me aproximar de Deus: entretanto, depois de três semanas, estava me sentindo muito pior.

- você está melhor, não se preocupe - disse ela. - Na verdade, quando acendemos a luz interior, a primeira coisa que vemos são as teias de aranha e a poeira, nossos pontos fracos. Já estavam ali, só que você não estava vendo nada, porque estava escuro. Agora ficou mais fácil limpar sua alma.

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