terça-feira, 9 de junho de 2015

Historiando as Festas Juninas!


PEQUENA HISTÓRIA DAS FESTAS JUNINAS

Texto: Ronaldo Evangelista

Produção e Fotos: Laura Huzak Andreato

Das comemorações brasileiras, as festas juninas estão entre as mais antigas e mais recheadas de histórias. Em nosso País, figuram ao lado do Natal e do Carnaval em popularidade. Ressaltemos seu caráter tão festivo, a animação e a quantidade de costumes e rituais. Fogueiras, bandeiras, danças, fogos de artifício, comidas, quermesses, pau-de-sebo, correio elegante, casamento caipira, balões, quentão, mil superstições.
De onde vêm tantas tradições? Por que dançamos quadrilha? Por que passamos a noite ao redor do fogo? Como tudo na história de nosso País, as festas juninas misturam rituais que se perdem nos confins da história, assimilados e adaptados ao jeito brasileiro.
Cai, cai, balão!

Você não deve subir

Quem sobe muito

Cai depressa sem sentir.
Cai, Cai, Balão (Assis Valente, 1956).

“Essas canções são diabólicas!”
O folclorista Gustavo Barroso (1888-1959), em O Sertão e o Mundo, escreve que a comemoração a que tradicionalmente chamamos festa de São João não é brasileira e muito menos católica. Ela é tudo o que há de mais profundamente humano e de mais visceralmente pagão. Velha como o mundo, se tem transformado ao sabor de cada meio e ao gosto de cada povo.
As milenares festas remontam a tempos bem anteriores à rememoração católica dos santos a cada dia de cada mês. Fontes apontam como provável origem dos festejos a celebração dos solstícios de verão, na França, em meados do século 12.
Gustavo Barroso, no livro citado, defende que devemos levar em consideração também as mais antigas festas em louvor de Agni, deus hindu do fogo (segundo o dicionário Houaiss, Agni é o fenômeno e a divindade do fogo, na mitologia védica).
A festa de São João é a festa de Agni, do fogo, a festa que comemora o solstício do verão, escreve Barroso. Lembra que, no século 7, antes de a Igreja popularizar o lado cristão das comemorações juninas, Santo Elói, em plena Idade Média, condenava aquelas festas “pagãs”:
“Não vos reunais”, dizia ele, numa encíclica aos diocesanos, na época dos solstícios. “Nenhum de vós deve dançar, ou pular em torno do fogo, nenhum de vós deve cantar no dia de São João. Porque essas canções são diabólicas!”
No Brasil, trazidas pelos portugueses com seus costumes europeus, as festas ganham ares de regozijo igualmente pelo período das colheitas, início do ano agrícola. O solstício de verão deles se torna o nosso solstício de inverno. A isso, somam-se aos poucos o sentido religioso introduzido pelo cristianismo, os costumes dos indígenas e os dos escravos africanos.
Assim, as festas juninas constituem produto único e nacionalíssimo, resultado de toda essa mistura de influências.
Capelinha de melão

É de São João

É de cravo, é de rosa

É de manjericão
São João está dormindo
Não me ouve, não
Acordai, acordai
Acordai, João.
Capelinha de Melão (domínio público).

Um mês (ou mais) de festa para três santos
Dizemos “as festas”, no plural. Concentram-se em três dias dedicados a santos cristãos: Antônio (13), João (24), o mais festejado -o povo até diz “festas joaninas”-, e Pedro (29). Mas em certas regiões a festa vara o mês e entra pelo começo de julho.
Antônio
Casamenteiro e encontrador de coisas perdidas
Santo Antônio é conhecido principalmente pela fama de casamenteiro. Na véspera do dia 13, instituiu-se entre nós o Dia dos Namorados, o que reforça a simbolização do santo como cupido. São comuns as simpatias feitas por fiéis em busca de um amor.
Também se atribui a Santo Antônio a fama de encontrador de coisas perdidas – tarefa que divide com São Longuinho. Mas, enquanto Longuinho ganha três pulinhos, Antônio sofre: sua imagem fica de cabeça para baixo até atender ao pedido.

Santo da fartura. Todo 13 de junho, fiéis vão à igreja receber o pãozinho de Santo Antônio. Dispõem o pão bento e sagrado junto das comidas para não faltar nada em casa.

Chamado às vezes de Antônio de Lisboa ou Antônio de Pádua, nasceu em Lisboa, em 1195, e morreu em Pádua, Itália, aos 35 anos. Português, o culto foi introduzido com força pela colonização.
Eu pedi numa oração

Ao querido São João

Que me desse matrimônio

São João disse que não
São João disse que não
Isso é lá com Santo Antônio.
Isso É Lá com Santo Antônio (Lamartine Babo, 1934).

João
Fogueira anuncia o nascimento do primo de Cristo
João Batista, historicamente, é um dos santos mais próximos de Cristo – inclusive parente de sangue: sua mãe, Isabel, era prima de Maria, a Nossa Senhora, e estavam grávidas ao mesmo tempo.
Em Didática do Folclore, Corina Maria Peixoto Ruiz conta a história, segundo a qual Isabel visita Maria e conta que também daria à luz em breve. As duas combinam: Isabel, assim que seu filho chegasse ao mundo, acenderia fogueira bem grande para que Maria ficasse sabendo e fosse visitar o recém-nascido.
João pregava, como Cristo, e sempre reconheceu o primo como o Messias, divulgava Sua vinda. Adultos, João batizou humildemente Jesus no Rio Jordão. Daí ter no nome o Batista (do grego, através do latim, “aquele que batiza”).
Foi numa noite igual a esta

Que tu me deste teu coração

O céu estava assim em festa

Pois era noite de São João
Havia balões no ar
Xote e baião no salão
E no terreiro o seu olhar
que incendiou meu coração.
Olha pro Céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes, 1951).

Pedro
“Farei de ti um pescador de homens.”
Pedro, o pescador, tem especial importância para a religião cristã: um dos fundadores da Igreja Católica, é considerado o primeiro papa. Foi um dos 12 apóstolos escolhidos pessoalmente pelo Cristo para criar sua Igreja:

“Segue-Me e farei de ti um pescador de homens”, é a famosa frase do Filho de Deus.

A presença de São Pedro é repetidamente afirmada ao longo do Livro Sagrado. Segundo a história, morreu também crucificado. Mas pediu para que o pusessem de ponta-cabeça: declarou-se indigno de morrer da mesma maneira que Jesus Cristo.
Vibram nossas almas
Gustavo Barroso escreve: No nosso interior, essa comemoração assume aspectos maiores e muito mais interessantes. Ela recorda todo o nosso passado de costumes singelos e profundamente nacionais. Nela vibram todas as almas rudes dos nossos matutos.
Foram muitos os costumes que viraram coisas novas, coisas nossas. Como fazemos com tudo que nos aparece, pegamos as tradições e os rituais e os recheamos de novos sentidos, relevantes à nossa

realidade. Talvez os dois principais e mais conhecidos ritos das festas juninas sejam a fogueira de São João e a dança da quadrilha.

O balão vai subindo

Vem caindo a garoa

O céu é tão lindo

E a noite é tão boa
São João! São João!
Acende a fogueira
No meu coração
Sonho de Papel (Alberto Ribeiro e João de Barro, 1935).

Com a filha de João

Antônio ia se casar

Mas Pedro fugiu com a noiva

Na hora de ir pro altar.
Pedro, Antônio e João (Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago, 1939).

Saruê! Anavã! Anarriê!
No Dicionário de Folclore, de Mário Souto Maior e Rúbia Lóssio, lemos que a quadrilha é dança palaciana francesa do século XIX que se popularizou no Brasil depois que os mestres da orquestra Millet e Cavalier trouxeram-na para o Rio de Janeiro, onde causaram muito sucesso.
E Maria Amália Corrêa Giffoni, em Danças Folclóricas e Suas Aplicações Educativas, diz que a quadrilha surgiu em Paris, no século XVIII e é derivada da contredanse française, que por sua vez é uma adaptação da country danse, inglesa, introduzida na França. No Brasil, acrescenta, esta dança ultrapassou os salões e a sua difusão foi tamanha que deu origem a outras danças no mesmo estilo, como a quadrilha caipira. Quanto à sua música, os compositores brasileiros deram-lhe colorido nacional.
As quadrilhas francesas se abrasileiraram. Os comandos do animador do baile ganharam muito charme. Soirée (reunião social noturna, ordem para todos se juntarem no centro do salão) virou “saruê”; en arrière (para trás) virou “anarriê”; en avant (para frente) virou “anavã”.
Cerimônia ancestral: atear fogo à lenha
Há muitas explicações para a indispensável fogueira. Dançar em torno do fogo é ritual antiqüíssimo, quem sabe tão antigo quanto a própria descoberta do fogo. A fogueira atual é uma soma de várias histórias e já ganhou um sentido só seu, adaptado aos nossos rituais. Comemoração da chegada do solstício, do ano agrícola, do nascimento de São João, revivificação, tudo já faz parte do folclore brasileiro.
O historiador e pesquisador Alceu Maynard Araújo (1913-1974), no livro Folclore Nacional, conta que a fogueira é em geral acesa logo que o Sol se põe. Sempre antes da meia-noite. Em geral quem acende é o dono da festa, ou melhor, o dono da casa. Nos lugares onde há abundância de lenha é costume fazê-la a mais alta possível, pois tal dará prestígio a quem a armou.
(© Almanaque Brasil de Cultura Popular)
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